Que idioma se fala no Brasil? Qualquer brasileiro diria, prontamente: o português. E mais, di-lo-ia com orgulho. Mas, terão mesmo orgulho desse facto? Digo isto porque, à mínima hipótese, adoptam termos ou adulteram o português de modo a ficar mais próximo do americano. Bem, afinal eles são sul-americanos (não confundir com um americano do sul, com nomes tipo Billy Ray, Cathy Sue, Peggy Sue, Sue Ellen e outras Sues).
Digo isto porque ontem, durante o jantar, ouvi um pouco de uma novela (reposição no canal GNT) onde diziam coisas como "registro", "drink", "AIDS".
Analisemos então estas - e outras - expressões.
"Registro" quer, na realidade, dizer "registo". Mas em "amaricano", registo diz-se "register", portanto após o americanamento resulta a quimera "Registro".
"Drink" (como em "Vôcê qué tomá um drinki?") nem precisa de explicação. Que diabo, "drink" é bebida!! Ainda por cima trocaram-lhe o género. UMA bebida passou a ser UM drink.
"AIDS" significa
Acquired Immune Deficiency Syndrome. Para os menos atentos, isto é INGLÊS!!! Porque é que os brasileiros não dizem SIDA, como nós? Atrevo-me a lançar uma teoria: a pronúncia inglesa de um brasileiro varia entre o anedótico e o incompreensível. Talvez por saberem isso mas, mesmo assim, querendo falar inglês, ficam-se pelas siglas que, ainda assim, vão soando menos mal. Mesmo assim "ÁIDZ" (pronúncia brasileira) está bastante distante de "EIDS" (pronúncia inglesa).
Como AIDS temos o DNA (
DeoxyriboNucleic Acid), que os brasileiros também utilizam em vez da versão portuguesa ADN (
ácido desoxirribonucleico). Mas aqui, há que também culpabilizar os portugueses pela utilização indevida desta sigla. Conheço técnicos de laboratório (alguns são familiares) que também dizem DNA em vez de ADN. Quando dizem isso, pergunto se também dizem AIDS. É nesta altura que, por falta de argumento, me dizem para calar e "Lá estás tu com essas palermices.".
Foi por isso que fiz este blog ;-)
Em oposição a este estranho amor pelo idioma dos "vizinhos de cima" temos a fúria desenfreada pela tradução de tudo. Simplificando, temos dois grandes mundos: a tradução literária e a tradução televisiva, vulgo dobragem... perdão, "doblagem" (aqui os brasileiros adoptaram o francês "doublé", num declarado galicismo).
A tradução literária por ser tão literal, presenteia os leitores com frases ou expressões que tocam as raias do incompreensível ou, pior ainda, criam no leitor uma errada noção de cultura ao fornecerem informação errada. Passo a dar um exemplo. Num livro técnico que comprei há muitos anos (uma tradução brasileira de um livro inglês) falam, a páginas tantas, de - no texto original -
teardown menu. Um
teardown menu é uma lista de comandos que pode ser destacada da barra de menus (perdão pelo galicismo, devia ser utilizada aqui a palavra "listas") e que pode ficar a flutuar no ambiente de trabalho, tornando mais simples o acesso a essa mesma lista de comandos. A tradução correcta para
teardown menu seria lista destacável pois "tear" aqui quer dizer "rasgar" ou "destacar". O "down" é porque, normalmente, as listas estão em cima e, se forem "destacadas" ficam abaixo de onde estavam.
O problema é que "tear" (destacar) se escreve do mesmo modo que "tear" (lágrima). Daí que, o tradutor brasileiro tenha traduzido
teardown menu para... respirem fundo... CARDÁPIO DE LÁGRIMA!!! Mais valia usar um tradutor automático, com todas as limitações que estes têm ;-)
A tradução televisiva, prefiro entendê-la como um toque de humor que se empresta aos programas de televisão, sejam eles de lazer (novelas e afins) ou de cariz mais informativo (documentários e afins).
Não consigo deixar de esboçar um sorriso (ou mesmo soltar uma descontrolada gargalhada) quando, num programa onde se acompanha uma equipa médica num hospital durante alguns dias, para além de dobrarem os diálogos dos médicos também se dão ao "trabalho"(?) de dobrar os queixumes, gemidos e respiração ofegante ou entrecortada dos doentes e sinistrados.
Apraz-me também verificar o esforço empregue na tentativa de "igualar" as vozes de "dobragem" às originais. Tentar usar uma mulher para dobrar uma mulher, um homem para dobrar um homem, e a alteração da voz de uma mulher ou homem para dobrar... uma criança ;-)
Também gosto de ouvir, em brasileiro, expressões como Wow, Uau, Sim!! por cima de expressões inglesas como Wow, Uau, Yes!! Ou mesmo a dobragem do riso ou do choro. É, literalmente, de ir às lágrimas ;-)
Não percebo porque não dobram também o rugido do leão ou o guinchar do macaco nos programas sobre a natureza.